A machada



















Escreve: Fernando Goncalves Rosa

          Era um daqueles dias de Outuno em que a cidade  mostrava um colorido espectacular resultado da combinacoes de cores das folhas das arvores. Uma paisagem preparada e proporcionada pela natureza com as arvores quase na sua totalidade a mudarem de cor. O horizonte apresentava as folhas vermelhas, amarelas, verdes tudo numa perfeita combinacao de harmonia e beleza. As pinceladas com os seus proprios tons nao poderiam ser melhores. Os amantes da natureza rezavam que nao chovesse para nao estragar o espectcaulo. E uma mudanca de rara beleza e espectacular que dura muito pouco tempo.

          Em casa do Apressado tudo estava em rebolico. E tarde. Tudo apressado. Ja devia ter saido para o trabalho. O homem salta da cama, meio sonolento e resmunga.     

Mandito relogio que nunca toca a horas.

Dirige-se ao quarto de banho, esfrega os olhos a pressa,  barbeia-se e prepara-se para sair.

Talvez ainda chegue a tempo. Nao gosto de chegar tarde.

Magro, meia estatura, pele marcada pelo intenso sol, maos grossas do arduo trabalho de construcao.

Para na cozinha apanha um bocado de pao, abre a porta e sai.

Apanho um café no caminho.

          Meteu-se no carro, resmungando e murmurando pedindo que comecasse sem problemas. O carro ja com uma certa idade. nao tem sido tratado e por isso nem sempre faz o que o dono manda. Uma vez por outra, emperra, e teima em nao se mexer e sair do sitio. Mas desta vez ouviu-se o roncar do motor. O Apressado arrancou com velocidade, veio para a rua e comecou a correr pelas vielas menos concorridas tentando ganhar tempo. Ele conhecia bem aquelas que tinham menos transito e que o levavam ao destino rapidamente. Consigo levava  a ferramento do seu trabalho: martelos, pregos, escadas. Tudo que era necessario para um dia de esforco.

Serpenteando foi passando carros e no processo irritando os outros condutores. Estava-se nas tintas. Queria era chegar a horas  para discutir  o contracto.

Quanto mais pressa levo, mais idiotas encontro no caminho.

Estava na linha da direita, forcou a sua entrada para voltar a esquerda, enfiando-se em frente de um outro carro. Carregou o acelerador e passou. O outro condutor., homem forte e com grande musculatura ficou irritado com a manobra que quase causara um accidente e queria demonstrar ao Apressado o seu descontentamento. Colocou-se ao lado dele, levantou o braco, mostrando-lhe a toda a musculatura.

Apressado, magro, olhou o adversario, pensando que se tivesse que parar no proximo semaforo que o outro era capaz de lhe partir todos os ossos. Pensou em fugir, mas a ideia de ter que parar preocupou-o.

E.. reagiu rapidamente. Esticou o braco e com as maos calejadas do trabalho agarrou a machada. Levantou-a e mostrou-a ao adversario num gesto defiante, brandindo-a no ar em gesto de lhe enterrar na cabeca se se metesse no caminho.

O adversario olhou o instrumento e pensou com os seus botoes que a melhor solucao para o caso era deixar o Apressado seguir o seu caminho. Carregou o acelerador e deu as nalgas.

Segundos depois … tinha desaparecido.

Julho 22, 1985.

Photos -stock

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