O Presidente Marcelo – Um caso de Simplicidade

Tema para o seu Dia a Dia
Escreve: Fernando Goncalves Rosa
A simplicidade do Presidente da Republica Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa e a sua maneira de ser e actuar tem tornado o líder Português num ícone. Esteve nas várias páginas dos jornais mundiais porque enquanto estava numa praia do Algarve foi a nadar socorrer duas mulheres que estavam em dificuldades. Noutro país, como os EUA, nem pensar.
A Presidência Portuguesa e mais fácil, descontraída, convivência com o povo. O Modus Operanti do Pais permite-lhe toda essa maneira mais descontraída de viver, conviver e governar os pais. Tudo isto em grande contradição com o chefe de estado norte-americano que anda sempre guardado e protegido pelo serviço secreto americano e polícia local, que nem pode respirar com tanta segurança e com tal aparato que asfixia o individuo mas protege a Presidência num pais polarizados e complicado.
Mas com Marcelo Rebelo e Sousa tudo parece diferente. Adora a convivência com o povo adora selfies e os banhos da praia. Mais espontâneo, mais amigo, mais cordial.
Recordamos as cenas que tiveram lugar no New Jersey Performing Artes Center quando da sua visita para as celebrações do Dia de Portugal 2018. O povo, o seu povo, o queria abraçar, empurrando e apertando, aglomerando a sua volta, abraçando, e tirando selfies como nunca tínhamos visto. E os pouco seguranças diziam deixem o presidente respirar que ele atende todos, perante a grande preocupação do serviço secreto americano e policia local ali presentes para o protegerem do seu povo. E atendeu toda a gente durante horas, ate que o átrio ficou vazio, as pessoas regressaram a casa e o Presidente saiu contente por ter ouvido o povo que representa. Houve alturas que os empurrões eram de tal maneira que nem nos poderiam mexer, nem respirar. Ele no entanto com toda a calma, dava abraços, deixa tirar selfies e avisava o segurança que não se preocupasse que estava tudo bem.
Tivemos um outro encontro com o Presidente Marcelo na Embaixada de Portugal em Washington, DC quando se celebrou o “Toast to América” com vinho da Madeira, recordando a independência americana que foi celebrada com vinho da Madeira por George Washington e Thomas Jefferson e outros.
E os presentes tiveram a sua oportunidade de fazer a sua fotografia com o presidente Marcelo, incluindo ele ajudando a tirar as selfies. Um amigo americano, ao meu lado, murmura durante o evento
-“Isto e incrível. O Presidente no meio dos convidados sem qualquer segurança, sem qualquer receio, feliz no meio e abraçando os seus contribuintes e com eles tirar as fotografias. Uma descontração de admirar. Como seria bom que outros Presidentes, incluindo o dos EUA terem o mesmo desejo e alegria. Experimentem fazer isso com o presidente americano” – suspirou esse amigo.
Ao longo dos anos temos tido a oportunidade e prazer de conviver com o Presidente da Republica Portuguesa em termos cordiais e fraternos.
Um ano, quando estava de férias em Portugal, tive uma audiência em Belém com o então presidente Cavaco e Silva, algo que tinha planeado para talvez 10 minutos e que acabou por durar quase um hora com troca de impressões e fotografias. Recebemos o mesmo presidente em National Harbor Point, Maryland quando ali se deslocou para presidir ao 20º aniversario da organização norte americana – Portuguese American Leadership Council of the United States – PALCUS- a qual lideramos durante quase 10 anos. Nesse mesmo ano perante a nossa grande surpresa acabou por nos condecorar como Comendador da Ordem de Mérito e entregar-nos as insígnias na Embaixada de Portugal em Washington.
Um dos momentos interessantes com esse presidente ocorreu numa viagem de Funchal para São Miguel. Com a aeronave quase pronta a sair e a ultima da hora deu-se uma comoção e mudança de passageiros nos lugares da frente, (O Nosso não foi mudado) Entraram jornalista, camaras de TV e assessores e logo a seguir o Presidente e sua esposa que se encontrava em campanha eleitoral do segundo mandato na Madeira. Reconheceu-nos, saudou-nos, e depois foi descansar e preparar-se para mais uma campanha. E quem pensaria que noutros pais o presidente ocuparia um lugar perto dos passageiros em avião comercial?
Tivemos um outro encontro no New Jersey Performing Art Center quando O Presidente se deslocou aos EUA para celebrar o Dia de Portugal e com ele trouxe vários artistas. Cavaco veio ao meio do povo, o povo perto dele pra o cumprimentar mas tudo ordenado, planeado sem empurrões ou selfies.
E nesse tom recordei a nossa visita a Casa Branca e a recepcao que o Presidente Clinton ofereceu ao Primeiro-Ministro Português em 1994. Foi planeada a lista de convidados, com o número do seguro social, foi feito o background check e depois tudo ordenadamente em longa fila revistos pelo serviço secreto, pelo detector de metal para a sala de recepcao onde em todos os lados estavam os olhos penetrantes dos seguranças secretos e na sala os peritos verificassem todas as camaras de televisão. Apesar da simpatia do presidente Norte Americano que recebeu os seus convidados e cumprimentou um a um na linha de recepcao acompanhado da esposa e então primeiro-ministro, havia um oficial a seu lado, identificando as pessoas, relatando os nomes e um fotógrafo tirando fotografias que mais tarde foram enviadas a todos os convidados. O presidente falava com os convidados alguns segundos e dava-lhe as boas vindas. Fizeram os discursos da praxe, a recepcao mas em todos os lados e ponto os olhos penetrantes e bem treinados.
Tudo isto se repetiu quando o Vice-presidente Al Gore ofereceu a sua recepcao no Departamento de Estado.
Uma pequena comparação com as duas presidências – uma completamente controlado e organizada e com montes de segurança, a outra que vive descansadamente e aparece no meio da multidão sempre que possível e em ligação ao povo que o elegeu. E a maneira de ser de Marcelo Rebelo de Sousa torna-o num caso de popularidade e o povo acha que ele e uma pessoa especial.
Foi isso que pensaram de certeza as duas mulheres no Algarve – quando viram os programas da TV os jornais no dia seguinte e se aperceberam que foram ajudadas pelo Presidente da Nação. Bem-haja.
Agosto de 2020
Bento da Cruz faleceu há Cinco anos
Tema para o seu dia a dia.

Escreve: Fernando Goncalves Rosa
Conheci o Dr. Bento da Cruz, considerado um dos grandes escritores transmontanos, numa noite quente de estio. Estava em Montalegre em contacto com alguns conterrâneos. Fomos informados que o Dr. Bento da Cruz iria falar nos Pacos do Conselhos na apresentação de um dos seus livros. E fui ouvir. Foram vários os oradores incluindo o Presidente da Camara. Tinha um grande desejo de conhecer este homem natural de Peirezes de quem a minha família falava com estimação. No fim da sessão fui ter com ele e apresentei-me. Apanhei-o de surpresa. Era um desconhecido para ele. Foi um encontro fugaz, breve e informal. Ele disse-me:
- Conheço bem a tua familia. Trabalhei com a tua mãe, e tenho boas recordações do teu avo João Eiró e que mencionei num livro. E claro que conheço bem o Pe. Domingos. E bom ver-te aqui e conhecer o filho de uma velha amiga de uma família estimada
Pareceu-me um homem frágil, já de idade avançada, mas afável. Uma conversa de minutos, com um homem no dia em que estava a ser reconhecido pelos políticos locais. Fiquei a admira-lo mais. Um homem que não só amava o Barroso como contava e escrevia história da sua terra.

Bento Goncalves da Cruz nasceu em Peirezes, concelho de Montalegre em 1925. Faleceu no Porto em Agosto de 2015 e quis ser enterrado na sua terra natal.
Estudou em Singeverga com os monges beneditinos no entanto abandonou a vida religiosa ao terminar o noviciado. Concluiu o curso de medicina e a especialidade de estomologia na Universidade de Coimbra. A vida profissional teve o seu início em Souselas mas entre 1956-1971 trabalhou no seu querido Barroso primeiro dando apoio aos trabalhadores que construíam a Barragem dos Pisoes e quiz apoiar e fazer medicina no seu torrão.
O sonho de trabalhar e sobrevier em Barroso foi abandonado. Deixou a região para fixar-se no Porto e ai trabalhou como medico ate se reformar. Regressou aos seus passeios a Peirezes onde recuperou a casa do avo, Escrevia ao mesmo tempo que trabalhava. Foi publicando varios livros, artigos.
Fundou o Jornal Correio do Planalto. Foi nomeado patrono da escola secundária de Montalegre, e viu um busto seu erguida na vila. E teve o prazer de desfrutar dessas honras enquanto vivo.
Tinha onze anos quando li o seu livro Planalto em Chamas que me deixou um tanto ou confuso. Bento da Cruz e um contador de história do seu dia-a-dia no paraíso do Barroso. Os meus favoritos são “Historia da Vermelhinha” Contos de Gostofrio, Lobo Guerrilheiro, e a “Historia da Lana Caprina”. Planalto de Gostofrio foi originado publicado em 1982 e veio a ser republicado pelo Circulo dos Leitores em 1992
Li a grande parte dos trabalhos deste Barrosao muito antes de o conhecer. Entrei em contacto com ele e ele enviou dois livros assinados
“Para o Fernando Rosa, filho da Dona Arminda e neto do Sr. João do Eiró, pessoas com tenho elevada estimação”. Minha mãe falava do Dr. Bento Marinheiro uma pessoa com quem tinha apanhado batatas, prestável medico e sempre pronto a ajudar aqueles que precisavam. Era da família dos Marinheiros.
“Escreve como quem pinta ou conta. Ler Bento da Cruz, é ver e ouvir a religiosa melopeia da água dos açudes, as matinas dos pássaros no coro alto das árvores, o disparo dos engenhos das poças nos doceis dos salgueiros das corgas, o requeimo do sol de verão mais ardente que vermelho, a tristura dos invernos nos amieiros verdes atirados ao fogo. – Afirma José Dias Baptista.
Admito que sempre gostei da escrita, Gosto de sua maneira de escrever e contar as histórias da terra numa linguagem natural e local. Ele conhecia a expressão inteira de ser do Povo Barrosão. Relaciona-se com os lugares onde nasci e cresci. As suas descrições rurais que também me fazem-se rir e aprecio grande senso de humor. Deveras espetacular. Eu passava tempos a ler essas histórias ao meu pai. Ao ler a biografia que escreveu sobre Victor Branco, advogado e politico em Montalegre, fiquei a melhor entender uma das personagens importantes do passado montalegrense.
O Presidente da Camara de Montalegre, uma vez, ofereceu-me vários volumes da sua autoria. Agradeci o gesto e li na viagem de regresso.
Recomendo que entre em contacto com a obra de Bento da Cruz e vai abrir uma porta ao Barroso, aquele paraíso localizado ao norte de Portugal, perto da Espanha

Títulos publicados (cortesia de Wikipedia –pagina Bento da Cruz)
Romance e contos
- Hemoptise, sob o pseudónimo de Sabiel Truta, 1959
- Planalto em Chamas, 1963
- Ao Longo da Fronteira, 1964
- Filhas de Loth, 1967
- Contos de Gostofrio, 1973
- O Lobo Guerrilheiro, 1980
- Planalto do Gostofrio, 1982
- Histórias da Vermelhinha, 1991
- Planalto de Gostofrio, 1992
- Histórias de Lana-Caprina, 1994
- O Retábulo das Virgens Loucas, 1996
- A Loba, 1999
- A Lenda de Hiran e Belkiss, de 2005
- A Fárria, de 2010 (comemoração dos 50 anos de vida Literária)
Biografia
- Victor Branco: Escritor Barrosão, Vida e Obra, 1995
- Guerrilheiros Antifranquistas em Trás-os Montes, 2005
- Camilo Castelo Branco: Por terras de Barroso e outros lugares, 2012
Crónicas
- Prolegómenos, 2007
- Prolegómenos II, 2009
- Prolegómenos III, 2013
Fernando Goncalves Rosa
Julho 2020