Bento da Cruz faleceu há Cinco anos

Tema para o seu dia a dia.

Escreve: Fernando Goncalves Rosa

Conheci o Dr. Bento da Cruz, considerado um dos grandes escritores transmontanos, numa noite quente de estio. Estava em Montalegre em contacto com alguns conterrâneos. Fomos informados que o Dr. Bento da Cruz iria falar nos Pacos do Conselhos na apresentação de um dos seus livros. E fui ouvir. Foram vários os oradores incluindo o Presidente da Camara. Tinha um grande desejo de conhecer este homem natural de Peirezes de quem a minha família falava com estimação. No fim da sessão fui ter com ele e apresentei-me. Apanhei-o de surpresa. Era um desconhecido para ele. Foi um encontro fugaz, breve e informal. Ele disse-me:

  • Conheço bem a tua familia. Trabalhei com a tua mãe, e tenho boas recordações do teu avo João Eiró e que mencionei num livro. E claro que conheço bem o Pe. Domingos. E bom ver-te aqui e conhecer o filho de uma velha amiga de uma família estimada

Pareceu-me um homem frágil, já de idade avançada, mas afável. Uma conversa de minutos, com um homem no dia em que estava a ser reconhecido pelos políticos locais. Fiquei a admira-lo mais. Um homem que não só amava o Barroso como contava e escrevia história da sua terra.

Bento Goncalves da Cruz nasceu em Peirezes, concelho de Montalegre em 1925. Faleceu no Porto em Agosto de 2015 e quis ser enterrado na sua terra natal.

Estudou em Singeverga com os monges beneditinos no entanto abandonou a vida religiosa ao terminar o noviciado. Concluiu o curso de medicina e a especialidade de estomologia na Universidade de Coimbra. A vida profissional teve o seu início em Souselas mas entre 1956-1971 trabalhou no seu querido Barroso primeiro dando apoio aos trabalhadores que construíam a Barragem dos Pisoes e quiz apoiar e fazer medicina no seu torrão.

O sonho de trabalhar e sobrevier em Barroso foi abandonado. Deixou a região para fixar-se no Porto e ai trabalhou como medico ate se reformar. Regressou aos seus passeios a Peirezes onde recuperou a casa do avo, Escrevia ao mesmo tempo que trabalhava. Foi publicando varios livros, artigos.

Fundou o Jornal Correio do Planalto. Foi nomeado patrono da escola secundária de Montalegre, e viu um busto seu erguida na vila. E teve o prazer de desfrutar dessas honras enquanto vivo.

Tinha onze anos quando li o seu livro Planalto em Chamas que me deixou um tanto ou confuso. Bento da Cruz e um contador de história do seu dia-a-dia no paraíso do Barroso. Os meus favoritos são “Historia da Vermelhinha” Contos de Gostofrio, Lobo Guerrilheiro, e a “Historia da Lana Caprina”. Planalto de Gostofrio foi originado publicado em 1982 e veio a ser republicado pelo Circulo dos Leitores em 1992

Li a grande parte dos trabalhos deste Barrosao muito antes de o conhecer. Entrei em contacto com ele e ele enviou dois livros assinados

“Para o Fernando Rosa, filho da Dona Arminda e neto do Sr. João do Eiró, pessoas com tenho elevada estimação”. Minha mãe falava do Dr. Bento Marinheiro uma pessoa com quem tinha apanhado batatas, prestável medico e sempre pronto a ajudar aqueles que precisavam. Era da família dos Marinheiros.

“Escreve como quem pinta ou conta. Ler Bento da Cruz, é ver e ouvir a religiosa melopeia da água dos açudes, as matinas dos pássaros no coro alto das árvores, o disparo dos engenhos das poças nos doceis dos salgueiros das corgas, o requeimo do sol de verão mais ardente que vermelho, a tristura dos invernos nos amieiros verdes atirados ao fogo. – Afirma José Dias Baptista.

Admito que sempre gostei da escrita, Gosto de sua maneira de escrever e contar as histórias da terra numa linguagem natural e local. Ele conhecia a expressão inteira de ser do Povo Barrosão. Relaciona-se com os lugares onde nasci e cresci. As suas descrições rurais que também me fazem-se rir e aprecio grande senso de humor. Deveras espetacular. Eu passava tempos a ler essas histórias ao meu pai. Ao ler a biografia que escreveu sobre Victor Branco, advogado e politico em Montalegre, fiquei a melhor entender uma das personagens importantes do passado montalegrense. 

O Presidente da Camara de Montalegre, uma vez, ofereceu-me vários volumes da sua autoria. Agradeci o gesto e li na viagem de regresso.

Recomendo que entre em contacto com a obra de Bento da Cruz e vai abrir uma porta ao Barroso, aquele paraíso localizado ao norte de Portugal, perto da Espanha

Bento da Cruz

Títulos publicados (cortesia de Wikipedia –pagina Bento da Cruz)

Romance e contos

  • Hemoptise, sob o pseudónimo de Sabiel Truta, 1959
  • Planalto em Chamas, 1963
  • Ao Longo da Fronteira, 1964
  • Filhas de Loth, 1967
  • Contos de Gostofrio, 1973
  • O Lobo Guerrilheiro, 1980
  • Planalto do Gostofrio, 1982
  • Histórias da Vermelhinha, 1991
  • Planalto de Gostofrio, 1992
  • Histórias de Lana-Caprina, 1994
  • O Retábulo das Virgens Loucas, 1996
  • A Loba, 1999
  • A Lenda de Hiran e Belkiss, de 2005
  • A Fárria, de 2010 (comemoração dos 50 anos de vida Literária)

Biografia

  • Victor Branco: Escritor Barrosão, Vida e Obra, 1995
  • Guerrilheiros Antifranquistas em Trás-os Montes, 2005
  • Camilo Castelo Branco: Por terras de Barroso e outros lugares, 2012

Crónicas

  • Prolegómenos, 2007
  • Prolegómenos II, 2009
  • Prolegómenos III, 2013

Fernando Goncalves Rosa

Julho 2020

Leave a Reply

Fill in your details below or click an icon to log in:

WordPress.com Logo

You are commenting using your WordPress.com account. Log Out /  Change )

Twitter picture

You are commenting using your Twitter account. Log Out /  Change )

Facebook photo

You are commenting using your Facebook account. Log Out /  Change )

Connecting to %s

%d bloggers like this: