Meco

As palavras dancam nos olhos das pessoas conforme o palco dos olhos de cada um- Almada Negreiros
Escreve: Fernando Goncalves Rosa
Tragedia no Meco
(Hartford, CT. Jan. 27, 2014) – Li com pena e com tristeza que seis jovens perderam a vida na Praia do Meco em Portugal. Nao sei o que aconteceu nem onde fica o Meco. Nao sei o que causou tal tragedia mas sei que sera dificil compreender a dor da familia. Creio que sera parte do papel policial de investigar o caso e encontrar as causas deste tao tragico accidente. Comecar primeiro por saber o que se passou, depois como se passou e finalmente se alguem e responsavel por o que se passou. Foi accidente? Caso criminoso? Alguem tera que ser responsavel…
Ja se fala e escreve sobre as praxes. Tomam-se posicoes, emitem-se opinioes, manda-se ar quente ca para fora…mas os factos (“Where is the beef?”) onde esta o relatorio da policia? O que deixa transparecer? Sera que nada esta a ser investigado so porque pensam que e uma parte da Praxe?
SEIS Jovens morreram. Entendem? Nao e uma brincadeira… se fossem meus filhos, quereria saber o que aconteceu. A familia merece uma grande explicacao. Poderia ter sido um accidente, por vezes as brincadeiras mais bem planeadas, teem um mau resultado e nao esperado. Acontece.
Talvez tenha sido uma praxe mal executada… Nao sei. Talvez as regras das praxes precisem de ser revistas. Nao ha numa praxe academica que possa justificar essas mortes. Accidentes acontecem. E importante aprender que NUNCA mais possa acontecer.
Praxes nao devem ser simbolos facistas, nazistas, etc. Podem ser engracadas, apesar de aqueles que as sofrem nao lhe acharam piada nenhuma, mas reconhecem o valor mais tarde. (Recomendo a leitura da Porta de Minerva de Antonio Jose Branquinho da Fonseca (1905-1974) escrito em 1947. O autor era natural de Mortagua, formou-se em Direito na Universidade de Coimbra e faleceu em Cascais). Nem tudo e mau nas praxes, mas quando elas provocam tragedias e causam mortes tera que haver responsaveis pela perda de vida. Com a tragedia de Meco ha algo muito mau!
Fui educado longe de Coimbra e fora de Portugal, numa universidade estadual e onde tambem era permitido uma forma diferente de Praxe. Existia o “Greek System” de Fraternidades e Sororidades, que era completamente voluntario. Um genero de pequeno club social em que os actuais membros, escolhiam os futuros membros e depois os treinavam num periodo de 4-6 semanas. As organizacaoes eram voluntarias e os membros custeavam todas as sua despesas, festas, convivios mas estavam todas debaixo das alcadas da universidade e qualquer violacao das regras poderia levantar a revogacao de poder actuar no campus. Algumas dessas actividades aplicavam mais o concepto fisico, outras psicologico e algumas ambos. Manter os pleges em forma fisica e desenvolver a mente. Infelizmente o grupo a que pertenci teve umas alturas, ja depois de ter saido, que nao se portou como devia e foi proibido de existir e actuar no Campus da Universidade (cerca de 18,000 alunos). Cada universidde tinha na media 6-9 Fraternidades (talvez 40-50) e 4-6 Sororidades (15-20). O “pledge period” comecava, ja depois de as classes terem sido escolhidas, e cada fraternidade era unica da maneira como conduzia o seu pledge period. Eram um periodo diferente e os Pledges nao eram todos caloiros, mas eram na grande maioria. Talvez novos no campus, vindos de outras universidades com era o meu caso. No primeiro dia de actividade a cada pledge era dado “Um Big Brother” cuja missao seria proteger durante o tempo de pledging. Essa era um tempo de conhecer pessoas, aprender disciplina, planeamento, horarios, e por vezes de peso psicologico, de responsabilidade. Por examplo durante um periodo de 5 semanas e meia foi sujeito a reunir com os meus novos colegas todos os dias no lugar destinado ao nosso grupo dentro do Centro estudantil. Angariei fundos para organizacoes, lavei carros da policia, fui buscar “brothers” contaminado de alcool aos varios clubes, aprendi a beber uma lata de cerveza de uma vez, aprendi a ser mais duro mentalmente, e aguentar mais um pouco a dor mesmo provocada pelo frio, aprendi a planear, a sentar num baloico durante varias horas com um frio tremendo, e uma fogueira ao lado, com o objectivo de conseguir presentes para o Natal de criancas necesitadas. Os tipos que entravam na Primavera tinham outras coisas…para fazer. Aprendi a trabalhar em equipa e a confiar mais noutros. Aprendi que me levaram ao maximo em esforco fisico e psicologico e que me fizeram chorar (mesmo sem eu querer) sem me baterem. Vivia durante esse tempo pensando sempre no pior que ia acontecer mas nao aconteceu. E sempre me incitaram e ensinaram que desistir nao era uma opcao. Tudo que se comeca deve acabar-se. E os meus novos “brothers” que puxaram po mim, sempre tambem tentaram proteger-nos para que nada de mal fisicamente nos ocorresse. Aprendi que ha honras no grupo e por vezes mal estar e teve de aprender a trabalhar com os dois. Aprendi tambem quando um dia me vi rodeado de outros individuos que me ameacaram de espancar-me por nao ser um deles mas que os “brothers” logo vieram em socorro para uma auentica batalha campal. Nos defendiamos a cor que usamos. Aprendi que o simples mencionar da tua fraternidade te abre as ports onde existem outros da mesma, mesmo nao se conhecendo. Sei que terminei esse periodo, pouco tempo antes dos exames finais de semestre completamente exausto mentalmente. Na noite que terminou o pledging, chorei, celebrei e depois dormi 48 horas. Acordei quando um dos fraters – precisamente o meu irmao mais velho que me protegia – chamou a perguntar se estava OK. Minha recompensa foi mais tarde ter um “little brother” que muito anos depois ainda somos amigos.
Entendendo certas actividades. No entanto acho muito estranho o que se passou la nesse lugar do Meco onde quer que seja e como foi possivel leva-los a afogarem? Amigos nao matam amigos! Amigos, irmao, socorre amigos, pedindo ajuda quando e incapaz de ajudar, mesmo sabendo que ira pagar o preco. Nao entendo. Nao sei o como pode acontecer!
A mitica da Universidade de Coimbra sempre me fascinou. E muito diferente daquela da Universidade que frequentei que foi fundada em 1849. Mais tarde, anos volvidos, adulto, passei em Coimbra explorei o espaco universitario da cidade e sempre me levou a procurar mais informacao sobre essa mitica instituicao. Voltei varias vezes mas um dia na companhia do meu filho (nascido fora do pais, que estudou e se formou numa universidade Jesuita localizada em Bronx, New York) a pisar o espaco, a ver a Torre, a porta ferrea, a Biblioteca Joanina e uma enorme exposicao, no patio, que nos educava sobre a greve estudantil do fim da decada dos 60’s e as sementes que levaram a Revolucao de Abril de 1974. Tenho familia que conviveu com alguns desses lideres e passou a juventude em Coimbra. De tanto que se falou do que passa nessa universidade era importante para nos os dois entendermos. Ao fim e ao cabo a Universidade de Coimbra e a mae educadora de uma nacao – durante muitos anos, era tudo de Coimbra. Sabemos que foi fundada em Lisboa pelo Rei Don Dinis em 1290, mas pouca depois de atingir a maior idade foi transferida para Coimbra em 1308, dizem que talvez devido a emancipacao do pais da Igreja ou devido aos conflictos dos estudantes com os residentes de Lisboa. Coimbra ja era a fonte de alta educacao, onde existia o Mosteiro de Santa Cruz. Hoje a universidade educa cerca de 20,000 estudantes dividas por 8 faculdades.
Janeiro 27, 2014
